16 de setembro de 2012

Faz tempo



Faz tempo que eu não tenho vontade de escrever. Na verdade, faz tempo que não tenho vontade de muitas coisas...
É, faz tempo que não faço coisas que costumava fazer pelo simples fato de me apetecer... Sem recompensas futuras. Deixei pra trás velhos costumes que me alegravam...
Faz tempo que associei novas músicas a novos momentos. As músicas que me fazem companhia ultimamente são as mesmas que me trazem velhas lembranças, ou mesmo as novas músicas servem pra renovar essas tais lembranças...
Faz tempo que uma gargalhada durou tempo suficiente pra me fazer chorar. Aliás, talvez faça um certo tempo em que as risadas não foram forçadas, ou não foram influenciadas por algum líquido ingerido. Até pra chorar de tristeza tenho necessitado de um estímulo.
Aquela vontade de demonstrar carinho há tempos não existe, só indiferença, "nem ligo, que seja, tanto faz"... Os sentimentos não importam, nada mais tira o fôlego. Faz tempo ein!
Faz um certo tempo que nem os filmes me impressionam mais. Comédias sem graça, terror que me permite dormir tranquilamente à noite, suspenses que não deixam mais uma interrogação na minha cabeça... Nenhum gênero cumpre o prometido.
Ah, mas faz tempo! Faz tanto tempo que não sinto as famosas e já bem conhecidas borboletas no estômago. Não ouço falar nem das larvas desconfiadas. Nada.
Eu até tento... Conheci pessoas novas, todas sempre tão iguais. Até os já conhecidos parecem ter se tornado iguais. Nada a mais, compatibilidade longe de ser satisfatória, futilidades, simplicidade demais, características que não me agradam... Depois disso? Vazio. Conversas vazias, coração vazio. Nem mesmo as viagens curtas que me faziam tão feliz... Hoje só trazem alívio imediato, logo passa.
Eu não sei. Aliás (isso sim faz muito tempo!) faz tempo que sei de algo. Incertezas deveriam ser tão presentes assim? Eu não sei se é realmente preciso buscar um caminho novo, desses que ultimamente só decepcionam e me fazem perder a vontade de buscar...
Faz tempo né...

23 de junho de 2012


     Cadê a tampa da minha panela, o chinelo do meu pé cansado, a metade da minha laranja?
     Tá em ebulição, vazando, transbordando, e nada da tampa da panela pra socorrer a lambança. É culpa da pressão que eu ponho em tudo isso? É o que dizem: desencana que uma hora ele aparece. [...] Ah, sejamos sinceras mulheres modernas: no fundo, no fundo, a gente quer mesmo é alguém pra dormir protegida no peito. [...] É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse".     
     Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, então lá vai: quero transar com beijo na boca profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem, quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca, cachorro e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo.   
     Quero sambão com churrasco e as famílias reunidas. Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte do amor. Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura.  [...] Quero que ele passe a mão na minha cabeça quando eu for sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolá-lo em minhas maldades. Quero que ele me torne uma pessoa melhor, [...] que respeite meus enjoos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo de uma beleza que me encha de tesão e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina. [...] Tem que dançar charmoso, ser irônico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de "essa mulher é única".
     É mais ou menos isso. Achou muito? Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. [...] Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver... Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo. [...]
     E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que "aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências" vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor.





TATI BERNARDI.

25 de maio de 2012

Possibilidade




     Poderia ser o seu gosto musical compatível com o meu. Aquela sua banda preferida que você faz questão de mostrar que conhece bem, aquele seu ídolo da MPB que te faz parecer mais inteligente, aquelas faixas vergonhosas que você me confessa ouvir …
     Poderia ser o livro do Bukowski que você me emprestou, [...]. Poderia ser a forma como você se assusta com um inseto, segura o rosto do seu gato entre as mãos, muda o canal da TV sem nem parar pra ler os programas que estão passando…
     Poderia ser esse seu jeito estranho que me confunde, suas tabelas periódicas que sempre estão dentro dos seus livros de literatura, o copo do Flamengo que eu te dei que você sempre pega para beber Coca-cola [...]
     Poderia ser o seu restaurante favorito, sua bicicleta [...], o seu sono pós-cappuccino da padaria da esquina, a sua tendência a achar graça na minha ironia, o capuz do seu casaco preto que te deixa com cara de bolacha quando você o utiliza…
[...]
     Poderia ser você. Se você não estivesse tão ocupado cogitando as possibilidades de outro ser por você. Poderia ser você. E eu poderia ser sua.

* com algumas modificações convenientes; retirado de Entre todas as coisas .

17 de maio de 2012

Pra tentar me convencer


Por que mesmo depois de tantas coisas passadas, você insiste que isso vai dar certo algum dia de novo? Por que mesmo sendo apenas pra brigar, você ainda aparece puxando assunto? Por que grande parte das músicas que ouço se encaixam exatamente com algum momento que passamos juntos? Por que ainda dói tanto quando eu vejo que você está decepcionado comigo? Por que mesmo você me decepcionando, me machucando, eu sempre volto a falar com você? Por que é só você que faz eu ficar deprimida dessa forma? O ruim é que agora você não é mais quem me faz sair dessa tristeza. Você não é mais quem ouve as músicas comigo. Você não é mais quem está por perto pra eu poder brigar, e depois abraçar. E a culpa é toda sua... Foi você quem foi embora sem olhar pra trás. Foi você quem voltou, disse perceber que não havia felicidade longe de mim, e depois foi embora pela segunda vez. Foi você que quis assim. E não adianta cobrar atitudes minhas, sendo que  você não foi homem suficiente pra lidar com as consequências dos seus atos. Não adianta querer voltar daqui a alguns meses, e querer que tudo continue de onde parou. O mundo não deixou de girar pelo simples fato de você ter ido embora. Ele já girou mais de 300 vezes desde então. E em um desses giros - ou melhor, em muitos desses giros - você deixou de ser motivo do meu riso.

11 de fevereiro de 2012

Para com isso.


Para com esse sorriso toda vez que me vê, para com esse abraço sufocante e com esse carinho estranho. Para com isso. Para de rir das minhas piadas, para de fazer piadas que me façam rir, para com essa ogrice fofa, exatamente igual à minha. Para com isso. Para de ser tão desligado, tão esquecido, de me deixar esperando algo que prometeu ontem, mas mesmo assim lembrar-se do que eu disse mês passado. Para com isso. Para de saber exatamente a hora certa de me chamar pra sair, de saber a hora certa de brincar, de saber a hora certa de dar seus conselhos estúpidos... Só porque você acha que todos tem que pensar igual a você, e quer ensinar às pessoas coisas que elas aprenderão apenas com o tempo. Para com isso. Para de deixar meus dias melhores quando eu te vejo, e de me fazer ficar triste quando você vai embora. Para com isso. Para de me dizer que somos iguais, que pensamos e agimos iguais, que combinamos, que teremos um futuro... “ – Retardado. – Ridícula. – Idiota. – Tonta. – Trouxa. – Feiosa. – Gordo. – I hate you.”  Para de me conquistar assim... Para com isso.


(meu Pedrovski ♥)

15 de janeiro de 2012

Tarde, mas chegou



Noite igual, momentos quase iguais, pessoas iguais, desinteressantes... Dentre elas, um cheiro diferente, um rosto diferente, um jeito totalmente diferente.
Não era o momento certo, sequer era o que eu havia esperado daquela noite. Mas fazer o quê? Foi só um sorriso pra me fazer desistir dos planos anteriores e começar a traçar novos planos. Brincadeiras, risadas, petulância. A sintonia inegável.
Era como eu havia imaginado, e nunca havia encontrado.  Você tem o dom de ler pensamentos? Em poucos dias meu barco já estava ancorado. Como você conseguiu?
 Duas horas nunca pareceram tão intermináveis como aquelas, porém nunca foi tão compensador viajar aqueles malditos quilômetros diariamente. Sabe o que é trocar dezenas de mensagens diárias, e mesmo assim surgir aquela felicidade quando chega uma nova? Sabe a sensação de ver aquele sorriso adiante, enquanto braços se abrem para o encontro? Sabe aquele aceno na rodoviária quando o ônibus vai partindo? Sabe como é quando alguém que você conhece a tão pouco tempo consegue despertar em você atitudes que seriam improváveis até para quem você conhece a muito? Sabe o “se sentir em casa”?
Lugares iguais, momentos diferentes, sentimentos diferentes. Mesma sintonia... sempre a mesma. Ah, essas coisas indescritíveis.
Vieram os dias, os quilômetros passaram a importar, o inevitável não pôde mais ser adiado...
E o porém? Longos meses não foram suficientes.