23 de outubro de 2010

O amor


Semana passada liguei pro meu melhor amigo e convidei para um cinema. A gente não se falava desde o ano novo, quando tudo deu errado pro nosso lado. De tempos em tempos sumimos, falamos umas coisas horríveis de quem se conhece demais. Ele topou desde que fosse daqui pra frente, preguiça de conversar da briga e tal. E fomos. Cheguei antes, comprei. Ele chegou depois, comprou água. Porque eu comprei os ingressos, ele comprou também uns doces e disse que pagaria o estacionamento. Porque ele pagaria o estacionamento, eu disse que daria a carona da volta. E com meu coração tão calmo eu voltei a sentir o soninho de sofá de casa com manta que sinto ao lado dele. A gente não se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. Já tivemos nossos tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo “ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase quinze anos. Somos pra sempre. Ele conta do filme que tá fazendo, eu do livro. Os mesmos há mil anos. Contar é sem pressa de acabar. Se ele me corta é como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se meu silêncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa. São quinze anos. É isso. Ele me viu de cabelo amarelo enrolado. Eu lembro dele gordinho e mais baixo. Ele sempre comprou meus testes de gravidez, mesmo a suspeita nunca sendo nossa. Eu já fui bem bonita numa festa só porque ele queria me fazer de namorada peituda pra provocar a ex mulher. Minha maior tristeza é que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo não consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo é meu único amor. O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo. E ele vai comigo na pizzaria e todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados "alguém é bobo como eu, alguém tem esse humor" e mais uma vez rimos da piada que inventamos, do pai que chega pro filho e fala: "sua mãe não é sua mãe, eu transei com outra". E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.

Por: Tati Bernardi (http://www.tatibernardi.com.br/)

14 de outubro de 2010

Se fosse tão fácil


Não costumo abrir meu coração pras pessoas. Não importa quem seja, talvez eu diga apenas os fatos... sem colocar meus sentimentos. Não é por querer, pois na verdade eu realmente gostaria de gritar por mundo minhas felicidades, ou de compartilhar com os mais próximos as minhas tristezas e preocupações... Mas não consigo. Por isso me servem os textos, minha agenda, minhas anotações, contos. Escrever é, de certa forma, fácil... falar é difícil, abrir o coração para alguém ouvir o que se sente - pelo menos no meu caso - é praticamente impossível. Existem tantas coisas que eu gostaria que os outros ouvissem eu falar, existem tantos diálogos prontos na minha mente... Sabe quando você faz planos antes de encontrar determinada pessoa, e, no momento que a encontra, todas as palavras antes ensaiadas parecem inviáveis? Pois eu tenho uma coleção desses planos, que talvez nunca sejam colocados em prática. E não apenas sentimentos bons; por vezes me pego guardando um rancor por simples medo de vê-lo rotulado como "sem importância", ou choro escondida para que os outros não fiquem tristes por mim, ou para que não digam "não fica assim"; eu sei que não devia ficar assim, oras bolas, mas eu não consigo.
Queria tanto falar tudo que eu sinto, mas simplesmente não dá. Amor sai como chingamento, pedidos de abraços saem em forma de tapinhas ou empurrões, angústia sai em um sorriso forçado, e as tristezas não saem... de forma alguma.
Se falar aos outros fosse tão fácil quanto dizer à mim mesma.

10 de outubro de 2010

Alone


"A pior solidão é aquela que se sente na companhia de outros."
O pior vazio é aquele que resulta de um abraço que sabe-se que é o derradeiro. O pior nó no estômago, é aquele que sobe pra garganta, sai em forma de choro. A pior realidade é saber que não se sabe de nada. Os piores sonhos são os que não serão realizados. O pior silêncio é o que diz mil coisas confusas em poucos minutos. A pior dor é de sentimento de abandono, é a dor da solidão mesmo. O pior amor... é aquele que não é recíproco.

2 de outubro de 2010

Y hoy te digo adiós


Mesmo quando nada mais faz sentido, eu lembro de tudo o que vivemos, de tudo que passamos juntos... Aquilo, pra mim, fez sentido. Momentos bons que eu jamais trocaria por nada nesse mundo. Eu não tenho grandes pretensões materiais (não como você), a única coisa concreta de que necessito é o carinho, o afeto, o amor... Isso é minha estrutura, sem isso o castelo de sonhos cai por terra. Sem isso, eu já não sei mais, eu não consigo... eu não quero! São tantas coisas, tantos planos, tantas promessas vazias... Então, por agora, eu prefiro manter meus sonhos calados.